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PREFÁCIO BIOGRÁFICO
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¿Quem seria logo tam sem fé, e sem juízo, que à vista desta real promessa, e destas benignas dernonstrações houvesse de acobardar-se ?

¿Como querería perder aquele mérito, que se tem por adquirido sem dúvida, em o passado sofrimento ? O desconto do que padeci em seis anos de prisão, a que as leis, a razão, e a piedade tanto olham, que o reputam por uma grande parte do castigo.

Não havendo V. M. por bem de me mandar ao Brasil, como se dizia, cuidava justamente, podia entender que V. Majestade como rei, senhor, e mestre nosso, se ruovia a ter maior compaixão de meus trabalhos, e não vinha em querer se me dilatassem em um tam remoto desterro.

¿Como se conforma esta esperança, tam justamente fundada, com a desesperação de que, sem alguma causa, fi caluniado?

Presentíssimo é a V. Magestade, como nestes mesmos dias, atentos os grandes apertos, e faltas de fazenda em que me vejo, fiz rogar instantemente a V. Majestade, e instantemente da minha parte, pelo conde de Redondo, e depois pelo padre António Vieira, fosse V. Majestade servido de me mandar passar desta torre ao castelo de Lisboa

Foi esta pretenção tanto nos próprios dias em que 2 V. M. parece se devia dar aviso de movimento (ou por melhor dizer de meus inimigos) que juntas recebi as novas de que a V. Majestade estava proposta a mudança de minha prisão; e de que V. M. ordenava fosse apertado nesta.

Foi sem falta, misericórdia e providencia de Deus (que aos injustamente perseguidos não desampara)