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ADVERTÊNCIA
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gunda edição, era já falecido Paulo, e sucedera na ofieina seu filho António.

Escolhi das várias edições a melhormente ortografada ao uso moderno, e desbastei nessa mesma o que me pareceu destoar das outras emendas bem aconselhadas. Como a doutrina dêste livrinho é aplicada e bem cabida, em geral, nos costumes de hoje em dia, entendi que o devia despir dos trajos antigos, e pelo tanto dissaboridos para quem se não regosija em comparações filológicas.

A Carta de Guia saiu de um fôlego da abundante veia do autor. Não tem paragens, nem divisões de matérias, bem que as haja abundantíssimas. Por isso reparti o assunto geral em capítulos, cada um com seu título, podendo assim o leitor achar no Índice a matéria que deseja relêr ou consultar.

Pode haver alguém que por muito amartelado de antiguidade, na frase de D. Francisco Manuel de Melo, me acoime de irreverência ao grande escritor, à conta destas superfetações em obra que dois séculos respeitaram na sua primitiva maneira. A minha veneração aos antigos é menos acrizolada, se as suas obras merecem andar na circulação da renovada economia social. Raras são as que o merecem, e dessas poucas haverá que a geração nova perfilhe, se lhas não amaneirarmos, em bôa consonância com o gôsto, por maneira que a instrução senão descaze do recreio.

Uns livros são monumentos literários, padrões de um ciclo do espírito humano, marcos que apontam para o passado, e não preluziram o itinerário do futuro. Êsses, a meu juízo, devem subsistir inviolados, íntegros, e intactos das renovações que lhes não dariam cunho de moeda correntia.