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CARTA DE GUIA DE CASADOS

ta é a um casado saber-se que o manda sua mulher, que saber-se é ela de seu marido escrava, e não companheira.

Êste fôro, esta prerrogativa de que cada um é bem que use, logo ao princípio convém que se concerte. O marido tenha as vezes de sol, em sua casa, a mulher as de lua. Alumie com a luz que êle lhe der ; e tenha também alguma claridade. A êle sustente o poder, a ela a estimação. Ela tema a êle, e êle faça que todos a temam a ela, serão ambos obedecidos.

Dissera eu, que as mulheres são como as pedras preciosas, cujo valor cresce, ou mingúa, segundo a estimação que delas fazemos.

Os que casam com mulheres maiores no ser, no saber, e no ler, estão em grandíssimo perigo. Dêste livrou Deus a v. m. (e aqueles que assim casaram) porque no que deviam ser iguais mulher, e marido, são muito iguais, e no que v. m. era bem que excedesse, assim é que excede. Os mais anos são grandes arras no casamento, em favor da autoridade do marido.

Não me detenho em apontar remédios a êstes riscos, porque o meu ânimo não é dar conselhos quem escolhe mulher, senão avisos para se viver com aquela que já se tem escolhido.