Página:Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly.pdf/16

Wikisource, a biblioteca livre
XII
PRÓLOGO

O retrato de Boileau, seu amigo, é mais lisonjeiro:

«Esprit né pour la cour et maître en l'art de plaire Guilleragues, qui sait et parler et se taire.»

Dirigiu algum tempo a «Gazette de France», onde fez o necrologio de Turene. Fôra íntimo da senhora de Maintenon, quando ela era ainda a senhora Scarron. Segundo Saint-Simon foi esta circunstância que lhe valeu, em 1677, a embaixada de Constantinopla «pour se remplumer».

Tudo indica, pois, que fôsse Guilleragues o tradutor ou revisor literário das cinco prodigiosas Cartas, com que o futuro marquês de Chamilly conseguiu, num gesto de fatuïdade quási ridículo, imortalizar o seu nome... Mas sem a fatuïdade dêsse capitão de cavalos, ter-se-iam apagado para sempre as estrêlas mais vivas, e por isso eternas, de tôda a nossa literatura de amor!

As cinco Cartas foram efectivamente escritas por Mariana Alcoforado, e dirigidas ao oficial francês. Foi o que Luciano Cordeiro apurou no seu estudo vasto e valiosíssimo. Tudo o que diz respeito à adorável apaixonada ficou irrefutávelmente esclarecido. É êsse trabalho que indicamos aos leitores que se interesse pelo assunto. Tudo aí está, repetimos — incluindo uma larga bibliografia das Cartas. Os mais notáveis homens de letras portugueses felicitaram sinceramente o crítico ilustre. Oliveira Martins diz-lhe: — «V. fez um milagre. O livro das Cartas que V. fez é verdadeiramente definitivo; não há nada mais a dizer. Esgotou a erudição e a crítica: não há que rebuscar nem que observar mais. Está definido o caso patológico e determinado o concurso de circunstâncias em que se deu.»