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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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Ouvi já dizer a um príncipe, falando-lhe uma pessoa de grande respeito por um criado, a quem aquele príncipe havia descomposto : Deixai-o, deixai-o estar em minha desgraça, que primeiro que o castigasse com ela, lhe roguei muito que me tomasse por amigo entre os mais por quem me deixou, e nunca quis senão deixar-me por seus amigos.

Êste tal requerimento deve com mais razão fazer o marido a sua mulher, e quando ela não convenha nêle, outro tal castigo lhe merece.

É cousa rija que a senhora de casa, de tudo seja amiga, senão de sua casa ; como acontece a aquelas, que ou perdem a casa, porque nunca estão nela; ou porque o estar nela as ajuda a que a lancem a perder.


XII


Govêrno doméstico


Disse que seria bom ocupar a mulher no govêrno doméstico ; e é bom, e é necessário, não só para que ela viva ocupada, senão para que o marido tenha menos êsse trabalho.

Cousas tão miúdas não é bem que pejem o pensamento de um homem ; e para os da mulher são muito convenientes. Pergunto : ¿ Não se rira v. m. se vira ir um elefante carregado com um grão de trigo na tromba ? Sim, por certo ; e logo louvára a Deus se o visse levar no bico a uma formiga. Diz bem por isso o rifão : Do homem a praça, da mulher a casa. Os maridos que