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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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dê-lhe contas seu marido daquilo que gasta, e corre por sua conta. Mostrar-lhes confiança as obriga a que façam o mesmo.

Estas contas de fazenda entre casados, não seria eu de parecer que jàmais se ajustassem, nem levassem ao cabo ; seja só reconhecimento, que na mulher haja ao marido. Tira-se daqui uma grande conveniência ; a qual é, que a mulher está sempre como que não é senhora disso mesmo que possui. Igualmente convém que gaste a mêdo, e goze a mêdo ; mas jàmais seja despojada do que logra ; porque então agradece, como que lhe deram, aquilo que lhe não tiram.

Agora inventou a cautela outras cautelas contra esta bôa política, ajustando-se logo nos contratos do casamento (especialmente entre pessoas poderosas) os alimentos que hão-de dar os maridos a suas mulheres, durante o matrimónio. A quem o prometeu assim, aconselharei que o satisfaça ; a quem o não prometeu, aconselharei que o não faça.

Não é, a êste propósito, pequeno o inconveniente que há quando se casa com filha herdeira ; as quais com maior razão pretendem ser senhoras do que é seu, e ter na governança de seus bens maior mão que seus maridos ; donde lemos haver algumas discórdias entre o Rei D. Fernando, e D. Isabel. Quando a mulher tal pretendesse, certifique-a seu marido, que quem é senhor da pessoa, e da vida, o é também da fazenda. Quem deu um anel de diamantes em uma caixinha de veludo, que não desse também a caixa, como deu o anel !