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CARTA DE GUIA DE CASADOS

XIII


O trajar


Não há para que me detenha no modo de vestir-se, vista-se conforme sua idade, mude-se com ela. Tem-se nisto respeito aos filhos, à saúde, ao gôsto, à presença, ou ausência do marido, e também à idade dêle. Se o houvéssemos de regular, parece que até aos três filhos, e até aos vinte e cinco anos se permite tôda a gala. E ainda nesse mesmo tempo tenha suas crescentes, e minguantes ; que nos mesmos altares de Deus se mudam as côres, e adornos, e vez há em que se mostram tristes. Aborrece-me umas maias muito enfeitadas sempre de bordados, e jóias, que parecem Fama de procissão, ou Rainha Moura de comédias. Seja mais confiada em si a formosura, se são formosas ; e mais reportada a fealdade, se são feias.

Dizia um marido galante a sua mulher, destas muito arraiadas: que em a vendo daquela sorte, lhe fazia mais devoção que amor ; porque aquele seu andar, não era andar vestida, senão revestida.

Outras há, que são uma perpétua pastilha, e uma caçoula perene. Muito conforme cousa é com elas o cheiro ; mulheres, e perfumes, tudo são fumos. E se êles fôssem bem adubados da discrição, eu fico que recendessem mais ainda. Confesso que nunca fui desafeiçoado ao concêrto das casas, e das pessoas, como por concertá-las se não desconcertem. Lembra-me haver ouvido, e lido (tudo conto com pouco aplauso meu) do