Página:Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly.pdf/196

Wikisource, a biblioteca livre
170
CARTA DE GUIA DE CASADOS

bons, não lhes quero dar ocasião em minha casa para que o não sejam : de sorte que sempre os amo, e sempre os escuso.

Outro mais escrupuloso dizia, que em quatro partes lhe pareciam bem os religiosos : Altar, Púlpito, Confessionário ; e perguntando-lhe qual fôsse o quarto logar ? Respondeu : pintados.

Lícito é que o parente religioso veja a mulher de seu parente, ou sua parenta. Venha a casa, ajude a alegrar nas ocasiões de contentamento, e a consolar no desgôsto ; componha a discórdia, se aconteceu entre os casados. Que o mesmo faça o prelado da Religião, o homem douto, e virtuoso dela ; assista-lhes o marido, dê autoridade a suas visitações, que então fica a prática mais universal, e a visita mais solene.

Enfada-me (e é para isso) o modo de alguns homens, que em lhe chegando Frade, ou pessoa de que êles não gostam, à sala, já o encaminham para D. fulana, e por se verem livres da impertinência, ou petitório de alguns de tais mensageiros, lhos lançam à pobre mulher, como quem lança ôdre de vento a touro em que desbrave. É êste um mal considerado remédio.

Também o ser descortês com os religiosos, e estar como potro espantadiço, tendo mêdo de qualquer argueiro que vôa pelo ar, é andar muito por êle. A mulher se desconfia, vendo o pouco que fiam dela, escandaliza-se a casa, o senhor se afronta, e nada fica melhorado.

Reduzira, finalmente, as beatarias da mulher casada em ser muito amiga de Deus, e muito temerosa dêle. Estudar nas obrigações de seu estado. Ouça a missa no seu oratório à semana ; e, se ao domingo quiser ir à Igreja, é bem louvável. Vá, e não às de maior