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CARTA DE GUIA DE CASADOS

bons, não lhes quero dar ocasião em minha casa para que o não sejam de sorte que sempre os amo, e sempre os escuso.

Outro mais escrupuloso dizia, que em quatro partes lhe pareciam bem os religiosos: Altar, Palpito, Confessionário; e perguntando-lhe qual fosse o quarto logar? Respondeu: pintados.

Licito é que o parente religioso veja a mulher de seu parente, ou sua parenta. Venha a casa, ajude a alegrar nas ocasiões de contentamento, e a consolar no desgosto; componha a discórdia, se aconteceu entre os casados. Que o mesmo faça o prelado da Religião, o homem douto, e virtuoso dela; assista-lhes o marido, de autoridade a suas visitações, que então fica a prática mais universal, e a visita mais solene.

Enfada-me (e é para isso) o modo de alguns homens, que em lhe chegando Frade, ou pessoa de que eles não gostam, à sala, já o encaminham para D. fulana, e por se verem livres da impertinencia, ou petitório de alguns de tais mensageiros, lhos lançam à pobre mulher, como quem lança odre de vento a touro em que desbrave. E este um mal considerado remédio.

Também o ser descortés com os religiosos, e estar como potro espantadiço, tendo medo de qualquer argueiro que voa pelo ar, é andar muito por ele. A mulher se desconfia, vendo o pouco que fiam dela, escandaliza-se a casa, o senhor se afronta, e nada fica melhorado.

Reduzira, finalmente, as beatarias da mulher casada em ser muito amiga de Deus, e muito temerosa déle. Estudar nas obrigações de seu estado. Ouça a missa no seu oratório à semana; e, se ao domingo quiser ir a Igreja. é bem louvável. Vá, e não às de maior