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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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concurso. Em dias de festa será conveniente acompanhar-se da parenta, e da amiga; ir cedo ; e não entrar na casa de Deus com o mesmo estrondo que se entrára em uma batalla, destroçando, e atropelando o povo. que se queixa, e as murmura. Esta é mantia de algumas senhoras, e não por certo boa manha. Não seja a última que saia, nem a primeira.

Tinha também que dizer a umas que comem nas Igrejas, para ficar para a tarde; a outras, que sem propósito se levantam mil vezes cada hora a rezar de joelhos, não sendo tempo; mas parece apertar muito: fique pelo menos sabido que não esquece.

O uso das penitências, para quem as usa, é saudável. Na mulher que as aprende, convém que se moderem. Há uns casados tam indiscretos que se desviam da mortificação, quando algum a quere receber. Isto não deve ser assim: porque quem ama a pessoa, muito mais deve amar o espirito. A mulher boa, que sem excesso se mortifica, é dignissima de que se lhe dê todo o azo, e licença, para que prossiga em sua oração, e mais exercicios santos. Ao marido o mesmo a mulher; que o contrário é amar de gentilidade.

Duvido (ou não sei se não duvido) de que seja conveniente a amizade de casadas com freiras. Isto podia ser mais, e menos tolerável, segundo fosse mais, ou menos freqüente. Por cousa tenho senhoril ter boa amizade com uma religiosa, que as mais delas, ou são santas, ou discretas, curiosas, e pessoas de estima; quando o negócio não chegasse a amores impertinentes, escritos de cada día, ciúmes de cada hora, presentes, e viagens de todo o ano. O mais, como digo, antes fora bem permitido; e que a casada mandasse à freira seus presentes, por festas, e a visse por festa.