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CARTA DE GUIA DE CASADOS

fôsse advertido de quem sabe que escrevo êste papel. Costuma haver excesso nos maridos por dous modos, quando suas mulheres se acham naquela hora do parto. Uns que as servem, e assistem melhor que as próprias comadres ; outros que como inimigos fogem delas. Dizia um dêstes com travessura, que, se casasse, não havia de ser senão em julho. E sendo perguntado porque ? respondeu : Porque se fôr tam mofino que minha mulher haja de parir, seja em março ; e possa eu achar embarcação para a Índia, onde me irei antes que vê-la em estado. A bôa, ou não bôa vontade que se tem à mulher, dará aqui o melhor conselho. Também o natural do marido puxará muito por êle. Não reprovo aqueles que tudo querem ser naqueles casos ; reprovo os que não querem ser nada. O saír de casa é repreensível, porque pode haver mil sucessos para que sejam necessários. Bastará estar cada um no seu aposento, e receber nêle com igual constância as ruins, ou alegres novas.

Hei-de alegrar tamalavez esta matéria com um dito de certo senhor castelhano. Era general, e lhe pediu um seu capitão licença por escrito para se ir achar em casa ao nascimento de um filho. Pôs-lhe por despacho : Al tener el hijo quisiera yo hallarme en mi casa ; que al nascer, poco importa.


XXXVI


Amas


A miséria dos tempos que em tudo vão para traz, tem feito que as amas, que antes eram mulheres honra-