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CARTA DE GUIA DE CASADOS

nio, são dignos de conservar enquanto não há legítimos. Houve tantos famosos homens no apelido de v. m. e em outros, dêste tal nascimento, que não aconselhara se esperdiçassem antes de tempo.

Com os pais, acabado me parece que o tenho ; nas mulheres à maior a dificuldade. Muitas há de tam generoso natural que agasalham com muita galantaria aos filhos de seus maridos ; outros que os não podem vêr, e os maltratam. Notável foi a fineza daquela Margarida de Valois, raínha de França (que já deixo nomeada). Estava no leito com seu marido Henrique IV, o Grande (que grande ingrato the foi !) viu que se afligia por lhe trazerem em secreto recado que estava no próprio paço real parindo do mesmo Henrique, mademoiselle de Foseuse, dama da rainha, e de el-rei. Vestiu-se Margarida, e foi assistir ao parto de sua criada, que tam mal a servia ; tratou de seu regalo, e o que é mais, de sua honra ; mandando a tôdas aquelas de quem se ajudou, que sob pena de sua desgraça, nenhuma descobrisse êste sucesso.

Se por esta receita obraram as outras mulheres, bem se lhe puderam confiar os filhos que chamam de ganância ; visto porém que não é assim, seria acôrdo criá-los sempre não só fóra de casa, mas do logar em que se vive. As filhas em conventos ; uns, e outros não sejam desamparados nunca ; que enfim soem ser filhos do amor, a quem se deve bôa correspondência ; e que por faltos de fazenda, e cheios da obrigação de seus nomes, se acham em mil aflições, que tôdas resultam em dano da honra, e da consciência de seus pais.

A Índia, e a religião costumam dar bôa acolhida a êste género de gente. Siso será destinar-lha.

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