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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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Quando a dúvida passasse muito adiante entre a mulher, e seus parentes, e parentas, e pudesse ser pública, e escandalosa, ou assim o ameaçasse ; obrigado seria o marido a interpôr-se em meio, e acordar tudo.

Isto se faz melhor, tratando-se com o próprio marido da parente (se o tem) ou já ofendida, ou já agressora. E ainda que seja levantando-lhe um par de testemunhos a ambas as agravadas, e dizendo a cada uma que a outra a roga (cousa de que elas muito se satisfazem) é conveniente acomodá-las, e fazê-las amigas.

Mulheres há, e não poucas, que nisto são tenazes, e duríssimas de reduzir de seus pontos, ou caprichos. Sem embargo, razão é que os maridos as encaminhem à razão, e lhes façam certo que elas é bem que sigam o seu parecer dêles ; pois à sua conta dêles está sua honra, e crédito delas.

Quando, feita a diligência prudente, e necessária, não bastasse, tam pouco serei de opinião que um homem esteja mal com sua mulher porque ela não está bem com a outra.


CONCLUSÃO


Ora, Senhor N., quando comecei a escrever a v. m. foi com ânimo de não passar de uma carta ; e acho me agora com um processo escrito. Eu de meu natural sou miúdo, e proluxo ; o estar só, e a melancolia, que de si é cuidadosa, me fizeram armar tam largas rêdes, para colhêr dentro delas todos os casos, e todos os avisos. Praza a Deus que nos não hajamos cansado debalde ; como seria, se no cabo de v. m. haver ouvido muito,