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CARTAS DE AMOR

De ninguém era de esperar semelhante tratamento!…

Podes lembrar-te do meu pudor, da minha confusão, da minha desordem… mas tu não te lembras de cousa alguma, que haja de obrigar-me, mau grado teu, a amar-me!

O oficial, que deve levar-te a minha carta, avisa-me pela quarta vez que quere partir.

Que pressa tem!…

Abandona certamente alguma pobre desgraçada neste país.

Adeus.

Custa-me mais acabar esta carta, do que te custou deixar-me, talvez para sempre.

Adeus.

Não me atrevo a dar-te mil ternos nomes, nem abandonar-me, livre de qualquer constrangimento, a todos os meus afectos…

Amo-te mil vezes mais que a própria vida, e mil vezes mais do que imagino.

Quanto me és caro, e quanto és cruel para mim!…

Tu não me escreves!…

Não pude coïbir-me de repetir-te ainda isto…

Torno a principiar, e o oficial partirá…

¿Que importa?… Parta embora…

Eu escrevo mais para mim do que para ti… Não procuro senão desabafar; assim também o comprimento da minha carta te há-de meter mêdo…

Não a lerás…

¿Que fiz eu para ser tão desditosa?… ¿E porque inficionaste com veneno a minha vida?…