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CARTAS DE AMOR
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Ah! se as conhecesses, acharias sem dúvida que são mais sensíveis de que a satisfação de me ter seduzido, e terias experimentado que somos mais felizes, e sentimos qualquer coisa de mais fino mimo em amar ardentemente, do que em ser amados.

Não sei nem o que sou, nem o que faço, nem o que desejo…

Mil tormentos contrários me despedaçam!…

¿Quem poderá imaginar um estado mais deplorável?…

Amo-te como uma perdida, e modero-me ainda assim contigo, até não ousar talvez desejar-te as mesmas tribulações, os mesmos transportes que me agitam…

Matar-me-ia, ou a não fazê-lo, morreria de dôr, se estivesse certa que nunca tinhas repouso, que a tua vida era uma contínua desordem e perturbação, que não cessavas de derramar lágrimas, e que tudo aborrecias…

Eu não me sinto fôrças para os meus males, ¿como poderia suportar a dôr que me causariam os teus, mil vezes mais penetrantes?…

Contudo não posso do mesmo modo resolver-me a desejar que não me tragas no pensamento, e para falar-te sinceramente, sinto com furor ciúmes de tudo quanto possa causar-te alegria, comover o teu coração, e dar-te gôsto em França.

Ignoro porque motivo te escrevo…

Vejo que apenas terás dó de mim, e eu rejeito a tua compaixão, e nada quero dela.

Enfado-me contra mim mesma, quando faço reflexão sôbre tudo o que te sacrifiquei…

Perdi a minha reputação, expus-me aos furores de