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CARTAS DE AMOR
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que lhe oferecem socorro, e com tôdas suas fôrças tentam enchê-lo e contentá-lo, lhe prometem vãmente uma sensibilidade que não recupera mais? — ¿que todos os prazeres que procura, sem desejo de os encontrar, não servem senão para convencê-lo, que nada lhe é tam caro como a lembrança das suas penas?

¿Para que me fizeste conhecer a imperfeição e desagrado de uma paixão, que não deve durar eternamente, e os infortúnios que acompanham um amor violento, quando não é reciproco?

¿E porque causa uma inclinação cega e um cruel destino se aferram de ordinário em decidir-nos por aqueles que nos desamam, e que seriam sensíveis a outros amores?

Quando mesmo eu pudesse esperar qualquer distracção e recreio de uma nova afeição, em encontrar um homem sincero ao qual me liasse, tenho tanto dó de mim, que faria muito escrúpulo de pôr o mais ínfimo de todos no estado de miséria a que me reduziste; e ainda que eu nenhuma obrigação tenha de poupar-te, não poderia resolver-me a exercitar sôbre ti uma vingança tam cruel, no caso mesmo que ela dependesse de mim, por uma mudança que não prevejo.

Procuro actualmente desculpar-te, e compreendo perfeitamente que uma religiosa é em geral pouco amável.

Contudo parece que, se os homens fôssem susceptíveis de razão nas escolhas que fazem, deveriam antes namorar-se delas do que das outras mulheres.

Nada as estorva de pensar constantemente na sua paixão; nenhuma das mil cousas que no século servem de ocupação e divertimento as distraem.

Parece-me que não deve ser muito agradável ver