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PREFÁCIO BIOGRÁFICO
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SENHOR

Os romanos costumavam ouvir em seu senado aos réus. Entendiam que a justificação própria de ordinário periga na pena, ou na voz alheia.

Maior documento é o de Deus, que não só ouviu as desculpas que Adão não tinha que lhe dar; mas ainda o chamou para que lhas desse.

Os príncipes cristãos que se desviaram dêsse antigo e bom costume, parece que tàcitamente prometeram usar maior piedade com aqueles que não ouviam: essa pode ser que fôsse a causa de se mudar êste costume.

Apadrinham tamanhos exemplos a ousadia que tomo em aparecer por estas letras aos Reais pés de V. Majestade.

Quanto e mais, Senhor, que aos príncipes não menos os engrandece quem lhes pede justiça, que quem lhes pede mercês; pois por ambas estas acções lhes dão ocasião de exercitarem o grande poder deDeus na terra.

É presente a V. Majestade, é notório a todos como

 

    Dr. Prestage no Arquivo da Casa da Silvã, ficou publicado no seu livro D. Francisco Manuel de Melo, pag. 223 e 234. Prestage pôs-lhe a rubrica de — Primeiro Memorial de D. Francisco Manuel de Melo e cita em tôda a sua obra a Justificação como 2.º Memorial, que não foi, sendo aliás escrito antes do pròpriamente Memorial. E mesmo era absurdo que em ambos os Memoriais, um em que se diz prêso há cinco anos, e noutro prêso há seis anos, no espaço de um ano recopíasse a Carta de Luís XIV intercedendo pelo seu livramento, e suprimisse o facto, até hoje ignorado, do falso testamento do seu criado João Vicente. O Memorial dirigia-se aos Juízes da Terceira Instância, que julgaram em 22 de Março de 1650, antes de completar os cinco anos de prisão.