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PREFÁCIO BIOGRÁFICO
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da sua bondade — ia com ânimo de me passar a Castela.

Fundava bem esta sua suspeita em me haver eu escusado de testemunhar contra Francisco de Lucena aquilo que eu não sabia. E êste tal, queria por fôrça que eu o soubesse, com pena de me ter a mim, e querer que me tivesse V. Majestade, e o mundo naquela conta em que êle tinha aquele ministro.

Fui desta acção avisado, por que a prática não parou nos ouvidos de V. M. Então por satisfação minha, tomando a ousadia da verdade, escrevi a V. M. uma carta a que V. M. com singular clemência foi servido de me mandar responder com outra, firmada da Real mão, em 4 de janeiro de 1642, servindo-se V. M. de honrar-me tanto, que se acham nela escritas estas palavras: «me pareceu dizer-vos que de vossos procedimentos tenho a devida satisfação. E fico certo que em tudo o mais que se oferecer de meu serviço procedereis sempre muito como deveis às obrigações de quem sois, e à confiança que eu faço de vossa pessoa».

Não houve ocasião, conselho, negócio, ou confiança naquele exército, em que os cabos dêle a não fizessem de mim mui particular: pois será V. Majestade lembrado fui bôa parte para se resolver a campanha daquele ano, tam bem lograda, como todos viram.

Sabem todos se não deu fórma àquele primeiro exército sem meus papeis, parecer, e indústria. Examine-se bem quais destas acções foram simuladas. Veja-se em que faltei com a pessoa, com o juízo, e com a fazenda. E se para êstes empregos se achou outro mais diligente, ou mais oferecido.

Serviu-se V. Majestade depois de me mandar encarregar a condução de tôdas as tropas rendidas por