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Alexandre Gomes de Azevedo, Vigário collado da Freguesia de Mboy daquelle Bispado, com a maior submissão, e respeito se apresenta na Real Presença de V. A. R. depois de offerecer a Deos as supplicas, e orações pela saúde, e felicidade de V. A. R., da Augusta Senhora Princeza Real, e de toda a Augusta Real Familiar Senhor, foi para nós, e para todo o Povo de S. Paulo, e de lodo o Brazil, como huma setta, que atravessou os nossos corações, o Decreto das Cortes Geraes de Portugal, que manda que V. A. R. seja recolhido a Lisboa, deixando-nos orfãos sem Pai. Este Decreto, tão longe está de fazer a felicidade dos Povos, a que se devem dirigir todas as Leis, que só serve de fazer a sua infelicidade, e fomentar desordens, e partidos, que infallivelmente se hão de seguir da ausência de V. A. R. aparlando-se deste Continente do Brazil. Pensão muito mal as Cortes, se julgão querer reduzir o Reino do Brazil a huma Província, captiva de Lisboa, para ellas dominarem com hum poder despotico, e servil. Pertendem illudir a V. A. com o pretexto de ir viajar pelos Reinos de Castella, França, e Inglaterra; este intento não he senão a fim de terem a V. A. R. como captivo, se se apartar do Brazil para Lisboa. V. A. R. he hum Príncipe Religioso , e de alta contemplação, não tem necessidade de viajar nos Reinos Estrangeiros; no seu Reino, e Domínios tem muito que observar, viajando nelles.

Não se aparte V. A. do Reino do Brazil, onde todas os Brazileiros estimão, amão, e reverenceão a V. A., sobre tudo os honrados Paulistas; todos elles, eu, e o meu Clero, estamos promptos a dar a vida por V. A. R., e pela Real Familia. V. A. R. em consciência deve ficar neste Reino do Brazil governando, para evitar as consequências funestas, que da ausência de V. A. R. infallivelmente se hão de seguir; pois os Brazileiros são honrados, e estão com os olhos muito abertos para ver o que lhes convém ; se V. A. R. seguir o que pertendem as Cortes, ha de-se arrepender, e sem remedio. Siga V. A. R. o dito de Cesar, que dizia — que valia mais ser o primeiro em huma Aldêa, que o segundo em Roma.

Rogamos pois a V. A. R. que para bem seu, e nosso, satisfaça ás nossas supplicas tão bem fundadas na Religião,