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Ao influxo celeste e doce da belleza,
Pulsa, canta, irradia e vive a natureza;
Mais languida e mais bella a tarde pensativa
Desce do monte ao valle; e a viração lasciva
Vai despertar á noite a melodia extranha
Que faliam entre si os olmos da montanha;
A flor tem mais perfume e a noite mais poesia;
O mar tem novos sons e mais viva ardentia;
A onda enamorada arfa e beija as arêas,
Novo sangue circula, ó terra, em tuas veias 1

O esplendor da belleza é raio créador:
Derrama a tudo a luz, derrama a tudo o amor.

Mas vê. Se o que te cerca é uma festa de vida,
Eu, tão longe de ti, sinto a dor mal soffrida
Da saudade que punge e do amor que lacera,
E palpita e soluça e sangra e desespera.
Sinto em torno de mim a muda natureza
Respirando, como eu, a saudade e a tristeza;
A saudade do bem e a tristeza do mal;
Tristeza sem irmã, saudade sem igual.