Deixa os inuteis restos
E, atravessando airosa os leves ares,
Vai buscar n'outra parte outra guarida.
Hoje, do que ora inda lembrança resta,
E que lembrança! Os olhos fatigados
Parecem ver passar a sombra delia;
O attento ouvido inda lhe escuta os passos;
E as teclas do piano, em que seus dedos
Tanta harmonia despertavam antes,
Como que soltam essas doces notas
Que outr'ora ao seu contacto respondiam.
Ah! pezava-lhe este ar da terra impura,
Faltava-lhe esse alento de outra esphera,
Onde, noiva dos anjos, a esperavam
As palmas da virtude.
Mas, quando assim a flor da mocidade
Toda se esfolha sobre o chão de morte,[1]
Senhor, em que firmar a segurança
Das venturas da terra? Tudo morro:
Á sentença fatal nada se esquiva,
O que é fructo e o que é flor. O homem cego
Cuida haver levantado em chão de bronze
Página:Chrysalidas.pdf/64
Aspeto
- 62 -
