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Quer-lhe o cheiro aspirar na rosa da campina,
Na brisa o doce alento, a voz na voz do mar,
Ó inutil esforço! ó improbo lotar!
Em vez da luz, do aroma, ou do alento ou da voz,
Acha-se o nada, o torvo, o impassivel algoz!

Onde te escondes, pois, ideal da ventura?
Em que canto da terra, em que funda espessura
Foste esconder, ó fada, o teu esquivo lar?
Dos homens esquecido, em ermo recatado,
Que voz do coração, que lagrima, que brado
Do somno em que ora estás te virá despertar?

A esta sede de amar só Deus conhece a fonte?
Jorra elle ainda além deste fundo horisonte
Quo a mente não calcula, e onde se perde o olhar?
Que azas nos déste, ó Deus, para transpôr o espaço?
Ao ermo do desterro inda nos prende um laço:
Onde encontrar a mão que o venha desatar?

Creio que só em ti ha essa luz secreta,
Essa estrella polar dos sonhos do poeta,
Esse alvo, esse termo, esse mago ideal;