Página:Como e porque sou romancista.djvu/57

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Desta segunda idade, que V. tem acompanhado, nada lhe poderia referir de novo; sinão um ou outro pormenor de psychologia litteraria, que omitto por não alongar-me ainda mais. Afóra isso, o resto é monotono; e não passaria de datas, entremeados da inexgotavel serrazina dos authores contra os typographos que lhes estripam o pensamento.

Ao cabo de vinte e dois annos de gleba na imprensa, achei afinal um edictor, o Sr. B. Garnier, que espontaneamente offereceu-me um contracto vantajoso em meiados de 1870.

O que lhe deve a minha collecção, ainda antes do contracto, terá visto nesta carta; depois, trouxe-me esta vantagem, que na concepção de um romance e na sua feitura, não me turva a mente a lembrança do tropeço material, que pode matar o livro, ou fazer delle uma larva.

Deixe arrotarem os poetas mendicantes. O Magnus Apollo da poesia moderna, o deus da inspiração e pae das musas deste seculo, é essa entidade que se chama edictor, e o seu Parnaso uma livraria. Si outr'ora houve Homeros, Sophocles, Virgilios, Horacios e Dantes, sem typographia nem impressor, é porque então escrevia-se nessa pagina immortal que se chama a tradicção. O poeta cantava; e seus carmes se iam gravando no coração do povo.