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VIII

se vae desenvolvendo pelos contos populares, em virtude d'um movimento nascido na Allemanha com a publicação dos Kinder-und Hausmärchen pelos irmãos Grimm (1812-14), communicado aos paizes scandinavos, á Russia, á Inglaterra e mais tarde á Italia e á França. Iniciado na peninsula por Milà y Fontanals (1853), a cujo lado se deve citar o nome da dama assignada Fernan Caballero, continuado para a Catalunha por Maspon y Labròs, urge que esse movimento se propague rapidamente a todas as provincias de Portugal e da Hespanha, antes que o jornal levado a toda a parte pelo caminho de ferro conclua a obra de obliteração que accommette estas tradições; dar-nos-hemos por pagos de nosso trabalho se contribuirmos com o nosso exemplo para salvar o que ainda resta d'elles.

Mas, dir-se-ha, não merecem os contos populares o desprezo a que tem estado condemnados? Não são ridiculas invenções, boas só para divertir gente rude, que não tem cousa melhor para pasto do seu espirito e da sua ociosidade? Estamos certos que muita gente, séria e grave na propria opinião, pasmará de que haja quem gaste o seu tempo com taes cousas; mas algumas pessoas haverá tambem que queiram aprender e para essas escrevemos as observações que seguem, desnecessario aos que estão ao corrente da sciencia.

 
 

Muitos dos meus leitores terão por certo em rapazes ouvido contar na eschola a anecdota do homem que tendo sujado um dedo e indo a sacudil-o, bateu com elle n'uma pedra e logo se esqueceu de que estava sujo para o metter na bocca com a dôr. Eis uma tradição sem duvida muito mais insignificante do que a maior parte das contidas n'este volume e á qual não supporiamos meritos sufficientes para ser contada por diversos povos e de