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bos e ella ficava sempre; elles estimavam-na muito e tractavam-na.

Ia uma velhota a casa da mãe d'ella, que andava sempre em recados por muitas terras e ella disse-lhe.

— Você como anda por muitas terras, diga-me se já viu uma cara mais linda do que a minha.

E ella disse:

— Vi; vi uma rapariga que ainda era mais linda que você em tal banda.

— Você quando vae para lá? Quero que lhe leve uns sapatos.

E deu uns sapatos á velha e disse-lhe:

— Leve-lh'os e diga-lhe que é a mãe que lh'os manda; mas ella que os calce antes de você de lá sair; eu quero saber de certo que ella os calça; olhe que eu pago-lhe bem.

A mulher levou os sapatos á filha; chegou lá e disse-lhe:

— Aqui tem estes sapatos que lhe manda a sua mãe.

Ella disse-lhe:

— Eu não quero cá sapatos nenhuns; meus irmãos dão-me quantos sapatos eu quizer; não os quero.

A velha ateimou tanto com ella que ella pegou n'elles; calçou um, fechou-se um olho; calçou outro, fechou-se-lhe o outro olho e ella caiu morta. Depois vieram os ladrões, choraram muito ao pé d'ella, lastimaram muito a morte d'ella e depois disseram:

— Esta cara não ha de ir para debaixo da terra; levemol-a n'um caixão á serra de tal banda que vem lá o filho do rei á caça para elle ver esta flor.

Depois levaram-na a esse sitio; veiu o filho do rei e viu-a e achou-a muito bonita e depois tirou-lhe um sapato e ella abriu um olho, tirou-lhe outro, abriu outro olho e ficou viva. E elle então levou-a para casa e casou com ella e foram visitar a bebeda da mãe e esta ainda depois mesmo a queria mandar matar, mas não o conseguiu.

(Ourilhe.)