— Abençoada sejas tu; quando tu fallares perolas finas botes tu pela bocca fóra.
A rapariga, já se sabe, ia fallando pelo caminho e iam-lhe caindo perolas muito ricas pela bocca fóra e ella ia-as colhendo no avental.
Chegou a casa com a meada fiada e a mãe ficou muito contente com as perolas e perguntou-lhe o que aquillo tinha sido; ella contou-lh'o e a mãe mandou lá a filha a ver se lhe succedia o mesmo. A filha foi, procurou a mulherzinha e disse-lhe:
— Oh mulher! quer que eu lhe leve um cantaro d'agua?
— Pois sim; vae por elle.
Ella foi, mas chegou á porta da cozinha e quebrou o cantaro e ella disse:
— Amaldiçoada sejas; saramagos lances tu por a boca fóra quando fallares, já que me quebrastes o meu cantarinho.
A rapariga chegou a casa e quando fallava deitava saramagos pela bocca fóra.
Soube-se que havia a rapariga que lançava as perolas pela bocca fóra e houve muito quem quizesse casar com ella. Ajustou-se casamento com um rapaz e os paes combinaram que se havia de esconder a engeitada e apresentar a filha com as perolas da outra na aba e dizer que ella era muda.
Fez-se o casamento e quando iam para a egreja ia uma voz em par do noivo e dizia:
«Perola fina fica na cuba
E o saramago vae na burra.»
Porque a engeitada tinha sido mettida n'uma cuba e a noiva ia n'uma burra. Depois o noivo disse:
— Eu volto para traz que vou muito encommodado e receio deixar a menina viuva, se melhorar casaremos amanhã.
Ao outro dia vae lá a casa com a justiça e lá acha-