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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/124

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ram a pobre da rapariga mettida na cuba. Esta contou tudo. Em termos que o noivo deixou a outra e casou com a engeitada.

(Ourilhe.)




XXXVII


O HOMEM QUE BUSCA ESTREMECER


Era um homem rico e tinha um filho que nunca estremeceu com nada. Dava-lhe o signo d'elle d'ir passar muitas terras e não seria timorato, nunca teria medo a cousa nenhuma. Disse para o pae: «Meu pae dê-me o que me pertence, que eu cá vou viajar.» Deu-lhe moço e cavallo e dinheiro; chegou a uma terra; pediu se o acolhiam; disseram-lhe que não; que havia ahi uma casa rica, mas que a familia que não vivia lá; andava lá um diabo estoirando dentro das casas. Elle foi pedir á dona da casa se ella lá o deixava ficar; ella consentiu. Foi e tarde da noite ouviu dizer: «Eu caio.» Disse elle: «Cae para aí!» «Caio junto ou aos bocados?» «Cae aos bocados.» «Depois cahiu uma perna; d'ahi a bocado caiu outra e por fim caiu o resto. O rapaz disse: — «Da parte de Deus te requeiro que te ponhas a pé e digas o que queres.» Uniram-se as partes do corpo e ficou um homem que disse: «Eu sou o dono d'esta casa; possuia uma quinta alheia, que não me pertencia; se a minha mulher não a restituir, vou para o inferno e toda a minha familia; se a restituir, vamos para o ceo.» O rapaz disse-lhe: «Pois eu digo-lh'o e estou certo que ella a ha de restituir.» — «Na adega está tambem um caneco cheio de di-