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Então a princeza, disse que pedia tres dias para adivinhar, pois era esta a que maiores voltas lhe havia fazer dar á cabeça. Ficou o aldeão no palacio á espera que a princeza adivinhasse; mas logo ao primeiro dia se foi ter com elle uma aia da princeza que lhe disse: «Explicai-me o que hoje perguntaste á princeza, e fazer-vos-hei tudo que me pedirdes.» Respondeu o aldeão: «Explicar-vos-hei tudo d'aqui a tres dias, se me deixardes ficar esta noite no vosso quarto.» Disse logo a aia que sim, e fez uma cama no chão para o aldeão dormir n'ella. Deitou-se o aldeão, e a aia julgando que elle já dormia, deitou-se tambem; mas logo que viu que ella estava deitada, tirou-lhe uma saia que ella tinha despida, e saiu do quarto. No dia seguinte foi ter com elle outra aia da princeza, a quem succedeu o mesmo que á primeira. Finalmente, sem saber o que tinha sucedido ás aias, foi a princeza ao terceiro dia ter com o aldeão, e elle disse-lhe tambem o mesmo que tinha dito ás aias; mas em vez de tirar uma saia á princeza tirou-lhe o seu chambre de dormir que era de finas rendas. No quarto dia, logo de manhã, foi o aldeão explicar a adivinhação ás aias e á princeza; e á hora em que a côrte estava toda reunida para ouvirem, a princeza respondeu logo: «A carne sem ser caçada, em palavras de Deus assada, era um coelho que encontraste morto no caminho, e que assaste no teu livro das orações. A agua sem ser da terra nascida, nem do céo caida, era o suor do teu cavallo.» «É verdade disse o aldeão.» Então o rei, levantando-se, ordenou ao aldeão que se fosse para a sua terra pois nada tinha a esperar. Mas elle disse logo. «Já que a princeza é tão intelligente, peço-lhe que advinhe agora esta:


Quando n'este palacio entrei
Tres lebres encontrei,
Todas tres esfolei;
E as pelles d'ellas mostrarei.»


Ia para mostrar as saias das aias, e o chambre da