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tecto, e perguntou-lhe: «Oh mulher! que estás tu ahi a fazer?» Responde-lhe ella: «Olha homem; estava a lembrar-me que quando a nossa filha tiver pequenos, se elles para aqui vierem brincar, que lhe póde cair aquella machadinha na cabeça e matal-os!» «Dizes bem mulher; ai se tal succedia!» E ficou tambem a olhar para a machadinha. Vendo a noiva que o pae e a mãe não vinham foi ter com elles á adega, e perguntou-lhe o que estavam fazendo ali. Então elles responderam: «Olha, filha, estavamo-nos lembrando que em tu tendo meninos, se elles vierem brincar para aqui, que lhe póde cair aquella machadinha na cabeça e matal-os.» «É verdade, senhora mãe, que póde isso acontecer.» E lá ficou tambem a olhar para a machadinha. Pouco a pouco todos os convidados que estavam á mesa, foram para a adega olhar para a machadinha.

Restava só o noivo, que foi por ultimo, mas ao ver a doidice d'aquella gente, fugiu, em busca d'uma terra onde não houvesse gente tão doida. Ao chegar a uma terra, viu muita gente a fugir, outros subindo para cima das arvores, e de muros, e outros fechando as portas e as janellas, finalmente havia o terror e o medo por toda a parte; parecia o acabamento do mundo. O rapaz perguntou então o que era a causa de tantos medos como iam n'aquella terra; e responderam-lhe: que andava lá um bicho que comia gente, e que ninguem se atrevia a matal-o. O rapaz ao ver o bicho soltou uma gargalhada, pois a causa do terror d'aquella gente não era mais de que um perú; e offereceu-se para o matar, sob a condição de lhe darem muito dinheiro. Morto o perú recebeu o rapaz grandes sommas de dinheiro e partiu para outra terra. Ali andavam muitas mulheres, e creanças com joeiras ao sol. Elle então perguntou o que andavam fazendo, e responderam-lhe: que andavam a apanhar o sol para o levarem para casa, pois não entrava lá nem de verão nem de inverno. O rapaz respondeu-lhe que ellas não eram capazes de apanhar o sol, mas que se lhe pagassem bem, que elle era capaz de lh'o pôr dentro das ca-