Era uma vez um rei que tinha tres filhas e depois foi chamado á guerra e deu um ramo a cada filha e disse: «Filhas eu vou para a guerra, e se vós procederdes bem, estes ramos que vos entrego, entregar-m'os-heis frescos como eu vol-os dou; e se vós tiverdes alguma desordem, eu logo o seu, porque os ramos seccam.» Caminhou o rei para a guerra. Havia um conde ao pé do palacio e tractou logo de conversar a filha mais velha; seccou-se o ramo que o pae lhe tinha entregado. N'isto começou a namorar a chegante á mais velha e o ramo d'ella seccou tambem. Ficou a mais nova, e como as outras lhe tinham raiva por ella ter o ramo como o pae lh'o deixára, tractaram de fazer que o conde a seduzisse tambem e disseram-lhe um dia se ella ia ao pomar do conde buscar umas alfaces e ella disse: «Eu encontro lá o conde; não vou.» — «Olha vae; é a hora do descanço; elle não está lá.» Ellas tinham justo com elle as horas marcadas que devia estar á espera no pomar. Ella foi e elle estava lá; lançou-lhe a mão ao vestido; ella puxou, rasgou-o e foi-se embora.
Ao outro dia justaram outra vez com elle de lá estar e mandaram a irmã mais nova lá buscar um limão. Ella foi e o conde botou-lhe a mão e caçou-a. Elle disse-lhe: — «Venha cá, menina, vamos a conversar um bocado.» E sentaram-se e ella disse-lhe: — «Olhe que seria bom estar um bocadinho ao fresco com os pés descalços; quer que eu lhe tire as botas?» — «Eu quero tudo o que a menina quiser.» Ella tirou-lhe as botas, que eram de montar, até ao meio da perna e fugiu; elle que ia a correr atraz d'ella, não poude andar e caiu.[1]
- ↑ Caiu porque lhe embaraçavam os pés os canos das botas.