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E ella saiu de debaixo da cama e disse: — «Ai! meu marido, aqui estou viva; perdôa-me que se eu fosse tão tola não estava agora aqui.»

(Ourilhe.)




XLIII


O CONDE DE PARIS


Havia um rei que tinha uma filha em edade de casar, e tractou-lhe o casamento com o conde de Paris. Convidou o rei o conde um dia para jantar, e quando estavam á mesa, o rei, a princeza, o conde, e a corte toda, começou o jantar que foi muito animado, fallando-se muito do proximo casamento da princeza. Á sobremesa deixou o conde cair um grão de romã na barba, e depois apanhou-o com o garfo e comeu-o.

Então a princeza disse que já não queria ser sua esposa, pois que elle, em vez de deixar cair o grão de romã na toalha, o comia. O conde levantou-se da mesa, e jurou vingar-se, dizendo á princeza que ella o desprezava por tão pouco, mas que ainda havia de comer pão de romeiro, beber agua de um charqueiro, e comer papas em palheiro. Passados dias foi offerecer-se ao rei um preto para jardineiro, e logo foi acceite. Mas o preto tinha umas maneiras tão delicadas, e fazia raminhos tão bonitos, que offerecia á princeza, e taes artes buscou, que ella se enamorou d'elle, e fugiram ambos. Pelo caminho disse a princeza que tinha fome, e como alli não houvesse de comer, disse-lhe o preto, que se ella queria elle iria pedir um bocado de pão áquelle romeiro que viram no caminho; ella então comeu o pão e disse: