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disse-lhe que voltasse e que para ver a pessoa que com ella dormia, petiscasse lume. Assim foi; mas quando ella petiscou o lume, a pessoa acordou e disse: «O diabo te leve, mais quem te deu o conselho que eu tinha o meu trienno[1] quasi acabado e tu viestel-o dobrar. Vae-te embora e leva o que trouxeste, com o filho que tens de mim e, se algum dia quizeres saber de mim, pergunta pela casa do principe das Palmas-verdes.»

Foi ella procurar os fatos ricos que encontrou no palacio, mas achou só os farrapinhos que levára; tendo vergonha de ir aonde a mãe com o filho ao collo, foi pelo mundo adeante pedindo esmola e perguntando pelo principe das Palmas-verdes. Chegada lá a uma terra, perguntou á Lua pela casa do principe das Palmas-verdes; mas ella respondeu-lhe que não sabia, que talvez o Sol que manda os seus raios mais longe o soubesse, e deu-lhe uma castanha que a quebrasse na maior afflicção que tivesse. Perguntou ao Sol e o Sol disse-lhe que não sabia, mas que perguntasse ao Vento, que esse se mettia por todas as bandas e lhe poderia dar noticias, e deu-lhe uma noz que a quebrasse na maior afflicção que tivesse. Perguntou ao Vento, que lhe respondeu: «Se eu o sei?! Ainda esta noite lhe bati á janella do quarto d'elle. Até elle se arrenegou bem commigo.» Ensinou-lhe o caminho e deu-lhe uma bolota que a quebrasse na maior afflicção que tivesse.

A mulher foi á terra do principe das Palmas-verdes e tendo lá chegado pediu uma esmola e perguntou a uma creada se o principe lá estava; a creada respondeu-lhe que elle tinha ido para a caça e que estava para casar, tendo a noiva já em casa. Emquanto a creada lhe foi buscar a esmola, quebrou ella a castanha: saiu-lhe uma roca d'oiro e uma estriga d'oiro; a creada chegou e viu aquella riqueza, foi aonde a ama e disse-lhe: «Oh senhora! sempre a pobre tem uma riqueza! ella está a fiar

  1. Triennio; o tempo pelo qual andava encantado o personagem que fallava.