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XLV


OS FIGOS VERDES


Era uma vez um rei que tinha uma filha doente que desejava figos verdes da figueira no mez de janeiro. O rei disse: «Quem trouxer figos verdes á minha filha se fôr moço casa com ella, se fôr velho dou-lhe bens.»

Constou isto por terras ao longe.

Havia uma mãe n'uma freguezia que tinha dous filhos, um tolo, outro avisado, tinham uma figueira ao fim de uma casa onde havia ainda alguns figos em janeiro, mas que não eram bons. O filho avisado contou o desejo da filha do rei á mãe e disse-lhe: «Minha mãe, eu vou levar-lhe os figos n'uma cesta.» Foi por um caminho adeante e encontrou Nossa Senhora e ella perguntou-lhe o que elle levava no cesto; o rapaz respondeu-lhe: «Levo (com licença[1]) cornos.» Nossa Senhora disse: «Pois (com licença) cornos te nasçam.» O rapaz, pensando que levava figos chegou á porta do rei; este veio e o rapaz disse que levava aquelles figos que tinha no quintal. O rei pegou no cesto e foi a descobrir e viu (com licença) os cornos e mandou matar o moço.

Depois disse o irmão tolo á mãe que ia levar ao rei o resto dos figos que estavam na figueira e que demais ia saber do irmão. Pegou nos figos o tolo e levou-os. Lá vae com elles no cesto; chegou ao meio do caminho e encontrou Nossa Senhora com o menino ao collo e ella perguntou-lhe o que elle levava o tolo respondeu que levava figos para a filha do rei. A Senhora disse: «Figos vos nasçam.» Disse elle: «Deixe dar um figuinho ao

  1. Este parenthese era dirigido pela narradora a quem a escutava.