Era uma vez um principe que não achava mulher que lhe agradasse. Um dia foi a uma feira e viu lá o retrato d'uma menina tão lindo, tão lindo que mal póde imaginar-se; perguntando de quem era, responderam-lhe que era da princeza de tal, mas elle custou-lhe a crêr que houvesse uma dama tão formosa. Logo que chegou a palacio disse a el-rei seu pae que só casaria com a princeza de quem vira o retrato. Tractou-se do casamento, que foi feito por procuração e o principe antes de levar a noiva para o palacio, quiz vêl-a sem ser conhecido; disfarçou-se e foi a umas cavalhadas que houve por aquella occasião e a que a princeza havia de assistir. Quando a princeza chegou com a sua companhia, o principe perguntou qual das damas era ella e disseram-lhe que a noiva era uma muito feia que ia na frente; elle ficou sem pinga de sangue e quando chegou o dia da noiva ir para a sua companhia, não a quiz ver. Todas as noites quando se ia deitar apagava a luz e levantava-se antes de amanhecer para não lhe vêr a cara. Andava a princeza por isso muito triste, mas não se queixava a ninguem. Um dia em que ella estava no jardim foi uma pobre pedir-lhe esmola e disse-lhe: «Eu bem sei a causa da vossa tristeza; mas posso dar-vos remedio, se quizerdes tomar os meus conselhos.» A princeza disse que sim e a pobre no outro dia voltou ao jardim e disse á princeza que fosse com ella a um sitio onde o principe tinha uma quinta. Chegados que foram ao portão, a pobre mandou dizer ao principe se lhe dava licença para passear na quinta com uma filha que andava muito doente e a quem os medicos mandavam tomar ares. O principe