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za e por isso aqui estou e desejo que se faça o casamento o mais breve possivel.»

Fez-se logo o casamento e o senhor das Janellas-verdes partiu para as suas terras com a princeza. A carruagem em que iam parecia que voava, ora atravessando mattas, tapadas, ora passando por pontes e estradas e a princeza sempre triste. Chegados a uma floresta muito sombria levantou-se tal tempestade que os raios caíam em grande quantidade e parecia que saiam da terra lavaredas de fogo. A princeza toda assustada gritou com todas as forças: «Jesus, Jesus, valei-me, Jesus, valei-me.» E logo cessou a tempestade e ao mesmo tempo desappareceu a carruagem, os lacaios e o senhor das Janellas-verdes, porque elle era o demonio em pessoa, e logo que ouviu o nome de Jesus fugiu para as profundezas do inferno.

A princeza, ao ver-se só em tal descampado chamou por Nossa Senhora e prometteu-lhe que se alli fosse alguem que a salvasse havia de andar um anno sem dar uma só palavra. Foi sentar-se junto de uma arvore e logo viu chegar um principe que vinha caçar áquelles sitios, o qual assim que viu a princeza lhe perguntou:

«Quem vos deixou aqui só, sujeita ás tempestades, e sem receio que vos façam mal?»

A princeza não respondeu, pois começava a cumprir a promessa que fizera a Nossa Senhora. O principe fez-lhe varias perguntas e, como visse que não respondia, convenceu-se que ella era muda e levou-a para palacio.

Tractou o principe de ir indagar por varias terras se conheciam a princeza, mas não conseguiu saber nada. Assim se passou um anno e ao fim do anno o principe sentia grande paixão pela princeza, desprezando certa condessa com que tinha o casamento tractado.

Exactamente quando fazia um anno que a princeza viera para palacio, mandou o principe que a vestissem com os factos mais ricos que se podessem encontrar.

Depois d'ella assim vestida, veio vel-a a condessa a quem o ciume e a inveja consummiam e disse-lhe:

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