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deixasse ir só que elle lá estaria no dia do casamento. Partiram, Pedro por mar e Pedrito por terra. Já tinha Pedrito caminhado bastantes leguas quanto lhe anoiteceu e viu-se obrigado a ficar no caminho debaixo de umas arvores para descançar aquella noite. Mas mal se tinha deitado quando ouviu umas vozes saidas das arvores que lhe diziam: «O principe Pedro vae casar com a princeza de tal, mas desgraçado d'elle, pois a princeza ao passar por certo rio ha de pedir agua e, se lh'a derem e ella beber, morrerá.

Quem isto ouvir e contar
Em pedra se ha de tornar.»

Pedrito ao ouvir isto apressou a jornada na intenção de ir avisar o principe, não receando, para salvar a princeza, tornar-se em pedra. Durante todo o caminho foi sempre ouvindo as mesmas vozes que lhe diziam: «A princeza ha de passar por uma ponte; ella a passar e a ponte a cair.

Quem isto ouvir e contar
Em pedra se ha de tornar.»

Já perto da terra da princeza ouviu Pedrito as mesmas vozes que lhe diziam: «A princeza ha de ter somno pelo caminho e ha de pedir para descançar; mas emquanto ella dormir ha de ser mordida por uma serpente e alli mesmo morrerá.

Quem isto ouvir e contar
Em pedra se ha de tornar.»

Chegou Pedrito ao palacio e logo tractou de avisar e principe Pedro das grandes desgraças que esperavam a princeza; mas qual não foi o seu espanto ao verem que ao passo que Pedrito ia contando o que ouvira pelo caminho se ir transformando em estatua de pedra.

Foi grande a dôr de Pedro, que tractou logo de man-