Era uma vez um padre que tinha um preto por creado e mandou-lhe um dia lhe preparasse uma gallinha para o jantar. Cozeu o preto a gallinha e vae que fez? Comeu-lhe uma perna e arranjou-a de maneira que o amo não désse facilmente por isso; mas o padre notou que faltava uma perna á ave e disse ao creado: «Tu comeste uma perna da gallinha?» «Não, meu senhor, não comi; ella era assim, tinha só uma perna.» «Qual perna, nem meia perna! Tu pensas que eu sou asno?» «Oh senhor padre! andam alli por o quintal muitas outras gallinhas que teem só uma perna; quando eu vir alguma hei de chamar o meu amo.» «Pois sim.»
Uma occasião viu o preto uma gallinha com uma perna encolhida e gritou logo: «Oh senhor amo! cá está uma gallinha com uma perna só.» O padre acudiu e enchotou a gallinha: «Chó, gallinha!» A gallinha extendeu a perna e o padre disse: «Oh tractante! tu queres fazer de mim burro?» «Não, senhor, não quero; mas o senhor padre não disse á gallina que estava na mesa: chó, gallinha!»
Um dia o padre mandou fazer ao preto umas papas para que estivessem promptas quando elle voltasse de dizer missa. O preto fez as papas, mas quer a farinha fosse pouca ou que elle lhe deitasse muita agua as papas ficaram muito ralas. O preto péga em si, vae para o coro da egreja e cantou de lá: «É de papa in papa é de rala in rala.» Virou-se o padre para e cantou!
Vae atraz do cancellinho
Que lá está o Philippinho
Para fazer bastioné mea.