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Cara-gentil da filha do meu amo.» Quando acabava de dizer este palavras appareceu-lhe o amo que tinha estado a escutar e disse-lhe: «Já que tantas provas me tens dado da tua fidelidade has de casar com minha filha e o Rabil hei de mandal-o matar para ser comido no dia da boda.» E assim se arranjou o casamento do creado com a Cara-gentil.

(Coimbra).




LVII


PATRANHA


Era uma vez um homem, caseiro d'um fidalgo; tinha um filho tolo e outro que estudava para padre; o fidalgo, foi o anno muito secco e o caseiro não tinha as medidas para lhe dar; disse-lhe o fidalgo que se elle lhe dissesse uma mentira do tamanho do Padre-Nosso lhe perdoava as medidas. Respondeu-lhe o caseiro: «Eu tenho um filho que estuda só em mentiras; eu hei de ver se elle tem em casa algum livro em que haja mentira do tamanho do Padre-Nosso.» Foi o caseiro para casa muito triste e perguntou ao filho que estudava para padre se elle sabia alguma mentira do tamanho do Padre-Nosso; respondeu-lhe que nos livros não tinha encontrado mentira tamanha. N'isto o tolo que os ouviu disse ao pae: «Vocês que diabo têem que não podem ver a gente?» «És um tolo, disse o pae; não dás remedio ao meu mal.» «Talvez darei; diga o meu pae que tem.» «É o nosso senhorio que disse que me perdoava as medidas se eu lhe dissesse uma mentira do tamanho do Padre-Nosso; mas o teu irmão não a encontra nos livros.» Foi o