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LVIII


MARIA SILVA

Andava um dia um principe á caça n'uma certa mata e ouviu chorar uma creança; elle aproximou-se do sitio d'onde vinham os vagidos e ouviu uma voz que dizia:

«Procura, procura
Que a que chora ha de ser tua.»

Então o principe riu-se d'aquellas palavras e disse: «Veremos se isso ha de acontecer.» Depois procurou, procurou, até que encontrou uma creança que brincava na relva; tomou-a do chão, marcou-a na testa com um ferro em brasa e cortou-lhe o dedo minimo da mão direita e foi deital-a em uma silva. A creança tinha sido abandonada por sua mãe, por isso ninguem mais a procurou.

Havia n'aquelles sitios um pastor que levava as ovelhas a pastar entre as silvas. Quando recolhia as ovelhas faltava-lhe sempre a cabra melhor do seu rebanho; depois elle voltava a chamal-a; ella ia, mas no dia seguinte succedia-lhe a mesmo. Um dia disse elle para a mulher: «Olha, não sabes? desconfio da nossa cabra maltez, pois fica sempre entre as silvas e é preciso chamal-a muito para ella vir.» Então a mulher no dia seguinte foi espreitar a cabra e viu-a deitada no chão dando de mammar a uma creancinha. Como a mulher não tivesse filhos, ficou muito contente com aquelle achado e o pastor tambem, e crearam a menina como se fosse sua filha. A menina foi crescendo e, depois que morreram os pastores, foi ella para creada d'uma princeza que estava para casar. Ora o principe, noivo da princeza, ia muitas