Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/170

Wikisource, a biblioteca livre
— 134 —

respondeu-lhe: «É que me lembrei agora de que tive um filho que se agora fosse vivo teria a vossa edade e que o deitei ao mar, porque elle me disse um dia que eu lhe havia ainda de deitar agua nas mãos para elle as lavar e elle recusar.» «Mas que tenho eu com o teu filho?» respondeu o principe. «Não tendes nada; vós sois filho de rei e eu sou um pobre estalajadeiro.» Foi o principe contar tudo ao rei e depois de muitas perguntas e respostas veio-se ao conhecimento de que o principe era filho do estalajadeiro. Então este já queria que o seu filho fosse viver com elle e com sua mãe, mas o rei ordenou que fossem elles para palacio, pois por sua morte o principe havia de ficar no logar d'elle, como rei.

(Coimbra.)




LX


A PRINCEZA ABANDONADA


Era uma vez um rei, que tinha uma filha. Um camarista do rei, tomou amores com ella. O pae, quando viu que ella andava gravida abandonou-a. Mandou-a deitar para uns campos e disse aos homens que a foram deitar, que lhe cortassem a lingoa e que lh'a trouxessem. Elles tiveram dó de lhe cortarem a lingoa e como levavam uma cadella cortáram-lhe a lingoa e trouxeram-n'a ao rei. A princeza ficou só nos campos, e teve lá um filho que foi creado só das hervas do campo. Depois de o menino já ser crescido pediu á mãe para ir passear; foi a tanta distancia que encontrou um caçador. Como nunca tinha visto homens fugiu para onde