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queria ir brigar. Elle julgando ainda que tinha alguma força foi brigar com o gigante. Já o gigante o tinha quasi morto, pediu-lhe que o não acabasse de matar, que o fizesse em quatro quartos, que o embrulhasse n'um lençol de linho e o pozesse em cima do cavallo e assim fizeram. O cavallo como estava acostumado a ir para casa do Rei Sabio foi lá ter. A filha do rei, quando viu o cavallo e não o viu a elle, foi dizer ao pae muito admirada, que vinha lá o cavallo, mas que não vinha o cavalleiro. O pae disse-lhe: «Não tem duvida, manda lá dois criados, que tirem o que vém em cima do cavallo com muito geito.» Estenderam o lençol no meio da casa, uniram os quartos e untáram com a banha do porco espinho, e a laranja partiram-n'a ao meio e deram-lh'a a cheirar. Depois elle ficou vivo como era. Foi vivendo em casa do rei, e o cabello do peito foi crescendo. Quando elle já tinha seus voltas no cabello á roda do corpo, disse-lhe o rei: «Olha não sabes? tua mãe já tem uma filha do gigante.» E elle disse-lhe: «Eu vou lá». E o rei sabio disse-lhe: «Não porque ainda não tens as tuas forças todas.» Depois esperou que tivesse as sete forças. Foi a casa do gigante, foi ao pé da irmã e cortou-lhe a cabeça. E o Rei Sabio tinha dito que quando elle brigasse com o gigante lhe dissesse que o não acabava de matar sem que elle lhe désse os olhos do Rei Sabio que tinha cegado. Depois elle chegou ao pé da mãe e cortou-lhe a cabeça. E foi brigar com o gigante. Quando o tinha quasi morto disse para elle, que lhe havia por força de ir buscar os olhos do Rei Sabio que tinha cegado. O gigante conforme poude foi-lh'os buscar, e entregou-lh'os. Depois elle levou-os para o Rei Sabio e pozeram-lh'os na cara, e laváram com a agua que elle tinha trazido. Ficou o rei com vista. Depois elle foi ao palacio do gigante. Tirou tudo quanto lá estava, e levou-o para casa do Rei Sabio, e casou com a filha do rei, tendo muitos filhos e sendo muito feliz.

(Abrantes.)