Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/180

Wikisource, a biblioteca livre
— 144 —
LXIV


COMÊRA UM BOCADINHO DE PÃO SE TIVERA LIMÃO…

Era uma vez um conde, casado e com uma filha, de quem era muito amigo, por ser muito linda. Tinha-a escondida e nunca a levava a parte alguma, com receio de que houvesse algum cavalleiro, que vendo-a, lhe roubasse o coração. Houve por esta occasião uma festa e a mulher do conde disse para este, que visse se podia arranjar alguma maneira de a filha poder vêr a festa, porque ella estava muito triste, e talvez assim se distrahisse alguma cousa. O conde ficou muito zangado com este pedido, e começou a pensar no modo, como havia a filha de assistir áquella festa, sem que ninguem podesse vêl-a. O palacio onde elle habitava tinha um grande jardim. Mandou alli abrir um janella muito pequena, e no dia da festa levou a filha para lá. No momento em que começava a festa, o principe que ia no cortejo, olhou para a fresta onde estava a filha do conde, e ficou surprehendido, pois nunca tinha visto um rosto tão formoso. Quando chegou ao palacio ia muito triste; montou a cavallo e foi vêr se se recordava do sitio onde tinha visto a bella desconhecida. O conde, porém, tinha mandado tapar immediatamente a janella, e por mais que o principe procurasse nada viu, e teve de voltar ao palacio ainda mais triste. No dia seguinte foi ter com uma fada, e esta pegando-lhe na mão, disse: «Principe eu conheço a dama do vosso coração, e se vós me daes uma bolsa cheia de ouro, eu ainda esta noite a apresento no vosso palacio.»

Estava a anoitecer e a fada dirigiu-se a casa do conde. Precurou a creada particular da filha, e pediu-lhe para pernoitar aquella noite alli. A filha do conde, que tinha um coração muito bondoso, disse immediatamente