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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/187

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armario; quando vier o padre, metes o advogado no outro escaninho, fingindo sempre que sou eu que bato á porta; finalmente, metes o padre no outro escaninho, e deixa o resto por minha conta. Ás dez horas em ponto chegou o medico; pouco depois bateu o advogado á porta, e então a mulher disse para o medico: «Ai! que estamos perdidos que vem lá meu marido… meta-se n'este armario até que eu o mande sahir.» Depois fez o mesmo ao advogado e ao padre, que sem saberem uns dos outros ficaram fechados no armario. No dia seguinte era dia de feira, e o marido da mulher levantou-se muito cedo, poz o armario ás costas e encaminhou-se para a feira, indo sempre apregoando pelo caminho: «Quem merca sciencia, sabedoria e capacidade.» Todos queriam comprar as tres coisas, mas só quando estava já muita gente na feira, é que o homem abriu o armario e disse: «Aqui está a sciencia», e mandou sahir o medico que estava em camisa e fugiu envergonhado. Depois, mandou sair o advogado, que estava em ceroulas, e disse: «Aqui está a sabedoria.» E por fim mandou sahir o padre que estava em cuécas, e disse: «Aqui está a capacidade.» Os tres fugiram todos envergonhados, e o padre punha a mão na coroa para não lh'a verem. Toda a gente ria a bom rir, e o marido voltou para casa muito satisfeito com a lição que tinha dado aos que pretendiam roubar-lhe a mulher.

(Coimbra).




LXVIII


A SENHORA DA GRAÇA

Era de uma vez um homem, que era casado com uma mulher, muito amiga de vinho, a ponto de não