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lho disse para o outro: «Ó irmão, lembra-me uma coisa; vamos por esse mundo de Christo, pregar mentiras por dinheiro; um de nós irá adeante, e depois irá o outro confirmar o que o primeiro disse.» Combinaram as mentiras que haviam de dizer, e partiram, para a mesma terra, indo sempre um adeante. Chegado o primeiro a certa terra começou a botar fama que trazia uma grande novidade, mas que só a daria por dinheiro; juntou-se logo muito povo, para saber a novidade, e o homem então disse: «Em tal terra acaba agora de nascer um menino com sete braços.» Então o povinho admirado pagou a novidade ao homem, e elle foi seguindo o seu caminho. Alguns mais incredulos dispunham-se a partir para a tal terra para saber a certeza da novidade, quando lá appareceu o outro irmão, e começou a dizer que vinha de lá; então todos lhe perguntaram se elle tinha visto um menino com sete braços. Elle respondeu: «Eu não vi o menino com sete braços, mas vi uma camisa a enxugar que tinha sete mangas.» «Então é verdade o que nos disseram,» e deram muito dinheiro ao homem. A este tempo já o outro irmão espalhava n'outra terra, que tinha visto um moinho em cima d'um pinheiro, e recebia muito dinheiro em paga da novidade. Depois de ter partido para outra terra chegou alli o irmão, e preguntaram-lhe: «Olhe lá; diz que em tal terra está um moinho sobre um pinheiro?» «Olhem, responde o rapaz, o que eu lhe sei dizer é que vi um macho carregado de saccos de farinha subindo por um pinheiro acima.» «Ai! então é verdade o que nos disseram,» exclamou a pobre gente. Depois deram muito dinheiro aos homens e elles lá foram para outras terras enganar o povo.

(Coimbra.)