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XXVI

provar em relação directa á opinião do celebre critico austriaco.

O n.º XLIII da nossa collecção é uma versão d'um conto de que se acha uma forma no Pentamerone IV, 10: Lo soperbia castecata. Na versão de Coimbra o desprezo da princeza é motivado por o pretendente de sua mão deixar á sobremeza cair um grão de romã na barba e apanhal-o com o garfo e comel-o. Este motivo excellente falta na versão de Basile, assim como em versões populares d'outros paizes, por exemplo em Grimm n.º 52: König Drosselbart, A. Kuhn, Sagen, Gebrauche un Märchen aus Westfalen (Leipzig, 1859, 2 vol. 8.º n.º 17 dos contos), mas o mesmo ou similhante se acha em outras variantes. Em o n.º CV da grande collecção de Pitré o rei é desprezado pela princeza, porque se abaixa para apanhar um bocado de romã que caíra no chão. N'outra versão siciliana da collecção de L. Gonzenbach n.º 18 o rei pretendente toma á mesa uma cadeira em que está uma pequena penna e deixa cair molho na barba, o que o fez egualmente ser desprezado.

É evidente pois que a versão portugueza que damos n'este volume, offerecendo aquelle motivo proprio a uma das formas conhecidas do conto, não pode provir do Pentamerone. Aquelle motivo acha-se em verdade n'uma redacção litteraria italiana do conto por Luigi Alamanni. (Novella da condessa de Tolosa e do conde de Barcelona). a Alamanni morreu em 1556, mas a sua novella esteve inedita até 1794, em que foi publicada n'uma obra pouco accessivel[1].

Em regra, se para a forma litteraria, individual, d'um conto fica de pé a possibilidade d'uma fonte litteraria, embora desconhecida, salvo quando se prove directamente a sua origem popular, para a forma popular, collectiva, d'um conto deve admittir-se uma corrente de tradição oral, salvo quando se prove a communicação

  1. Vid. a nota de W. Gimm K. u. Hm. III, 86 s., a de R. Köhler em Gonzenbach II, 216, F. Liebrecht, Orient u. Occident I, 122.