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VII
A RAPOSA E O LOBO

Era uma raposa e viu uns cães de caça e elles disseram-lhe: — Ó comadre anda aqui para onde a nós; veiu agora uma ordem dos bixos não fazerem mal uns aos otros.» Ella disse-lhe: — «Eu venho logo que vou ver se aquelle meu compadre se quer utilisar da mesma ordem e vir para aqui onde a nós.» O compadre era um gallo. N’isto passou ai um caçador e disse-lhe: — «Ó raposa, queres tu gallinhas? — «Eu quero.» — «Pois então anda á tarde a minha casa que eu tenho lá uma capoeira d’ellas.» — O caçador tinha uma duzia de cães de caça mettidos n’uma côrte e soltou os cães á raposa. N’isto ella deitou a correr e o gallo estava em cima d’uma parede o gritava-lhe: «Mostra-lhes a ordem, mostra-lhes a ordem.» A raposa escapou-se dos cães e foi a um campo que tinha o tal caçador e que era de milho; soltava para dentro — alagava uma pedra; saltava para fora — alagava outra, até que fez um portello por onde podia passar o gado. Viu um burro e disse-lhe: — «Ó compadre, queres milho? — » Quero. — «Então entra para dentro que eu hei de pagar ao caçador o engano que elle me fez.» O burro comeu tanto milho que lhe saiu o sesso defóra; depois veio um corvello e a raposa disse-lhe: — «Ó compadre, queres tu carne? — » Eu quero, sim.» — «Pois então vae alli.» E indicou-lhe o sesso do burro onde elle foi picar e o burro enganou-o aos couces. Depois a raposa encontrou um lobo e disse-lhe: — » Ó compadre, queres tu? vamos tomar um afilhado. Foram para deante e encontraram uma gente que estava a fazer um molho de centeio e vae ella disse-lhe : — «Olha, ó compadre, chega-te ali pr’a o pé d’aquelles ho-