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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/52

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VIII
RAPOSINHA GAITEIRA

Era uma vez uma raposa que tinha por compadres um grou e um lobo. Certo dia lembrou-se o grou de convidar a raposa para que fosse cear com elle umas papas de milho; a raposa foi mas nada pôde comer, pois o grou apresentou-lhe as papas dentro d’uma almotolia e como a raposa não tivesse bico o grou comeu as papas todas. Passados dias, a raposa para se vingar, convidou o grou tambem para comer papas, mas d’esta vez comeu ella tudo, pois tinha deitado as papas n’uma laje e o grou não pôde comer. A raposa tomou tal fartadela que nem podia andar, e como tivesse de fazer uma jornada, pediu ao compadre lobo que a levasse ás costas, pois estava muito doente. O lobo isso lhe fez e a raposa ia dizendo pelo caminho.

— «Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vae á cavaleira.»

O lobo perguntava-lhe: — «Que dizes tu, comadre? — «Ai, minha barriga, ai, a minha barriga. Assim foram caminhando até que o lobo caiu no logro que a raposa lhe pregou e então reparando que estavam perto de um poço disse para a raposa: — «Ah! Tu assim me enganaste! Disseste-me que estavas muito doente e vaes cantando pelo caminho:

— «Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vae á cavaleira.»

Pois bem fica n’este poço para não me tornares a enganar.» E atirou a raposa ao poço. A raposa metteu-se dentro d’um balde que estava na borda do poço para se tirar agua, ora com um, ora com outro; de que se havia de lembrar a raposa? Disse ao compadre: — «Olha,