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tu fizestes muito bem em me deitar ao poço, porque estão cá coisas muito bonitas; se tu queres ver, mette-te n’esse balde que ahi está em cima; vens ver o que cá está e depois voltas. O lobo caiu novamente no logro; metteu-se no balde, e foi abaixo e ao mesmo tempo que elle ia descendo vinha subindo para cima o balde em que estava a raposa. Esta logo que se viu em cima disse para o lobo: — «Fica para ahi para não seres tão tolo que te fies nas matreirices que as mais raposas tão matreiras como eu te queiram impingir. E foi-se cantando pelo caminho fóra:

— «Raposinha gaiteira,
Farta de papas
Vae á cavaleira.»

(Coimbra.)



IX
O COMPADRE LOBO E A COMADRE RAPOSA

Era de uma vez um homem casado com uma mulher chamada Maria, e tinham por compadres um lobo e uma raposa. Um dia disseram elles ao lobo e á raposa: — «Olhem, compadres, é preciso fazer uma grande festa cá em casa e por isso vê tu, compadre, se me trazes alguns carneiros e ovelhas para o jantar; e tu, comadre raposa, arranja gallinhas e patos, pois nós queremos que o banquete seja fallado em toda á vizinhança.» O lobo e a raposa responderam: — «Fiquem descansados, compadres, que não lhes ha-de faltar o que desejam.»

Desde esse dia o lobo e a raposa todas as noites le-