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E foi lançando o rio que tinha bebido e já o palacio do rei estava quasi a afundar-se quando o rei ordenou que fossem levar a bolsa de moedas ao borrachudo e o mandassem embora, antes que elle lançasse o rio todo.

E lá se foi embora outra vez o borrachudo com a bolsa de moedas no bico.

(Coimbra.)



XII
O CUCO E A POPA

O cuco era marido da popa e a popa era muito estragada; quando era no principio do anno comia tudo e depois andava a pedir misericordia. Foi pedir uma vez á melra para irem ambas pedirem ás formigas se lhes davam algum soccorro e as formigas disseram para a melra: — «Emquanto tu andaste de silveira em silveira — chelro, merlo, merlo, merlo, chelro — ganháras pão para o inverno.»

O moxo era o rendeiro n’esse tempo; o cuco mandou lá a mulher pedir-lhe um carro de pão. O rendeiro disse-lhe: — «Pois sim; eu empresto-te esse carro de pão, mas has de dormir cá esta noite, que eu amanhã mando-te lá o pão pelos meus moços no meu carro e com os meus bois.»

A popa ficou lá e o moxo mandou-lhe ao outro dia o carro de pão; o cuco assim que o carro lá chegou ficou com carro, bois e tudo, dizendo que a mulher tinha ganho tudo.

N’isto o moxo mandou obrigar o cuco pelos bois e carro; depois foram a juizo e o juiz deu-lhes de sentença — o cuco que andasse a publicar por esse mundo todo