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Página:Contos Populares Portuguezes colligidos por F. Adolpho Coelho.pdf/61

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XIV


BRANCA-FLOR

Era de uma vez um rei que era muito jogador e tinha por costume jogar com o seu creado particular. Um dia em que já tinha perdido muito ao jogo, jogou a propria coroa e o creado ganhou-a. Vendo-se o creado de posse da coroa não cabia em si de contente, mas pouco tempo lhe durou o contentamento, pois quando elle menos o esperava, vieram duas pombas e roubaram-lhe a coroa, levando-a nos bicos.

Contou o creado isto ao rei e este disse-lhe: — «Se tu fores capaz de me restituires a coroa dar-te-hei a minha filha em casamento.»

Chamava-se a filha do rei Branca-flor e tanto ella como a rainha sua mãe eram feiticeiras. A mãe podia fazer quanto quizesse desde a madrugada até á meia noite e Branca-flor podia usar dos seus poderes de noite e de dia.

Quando Branca-flor soube da perda da coroa, transformou-se n’uma pomba e fugiu do palacio, com tenção de voltar só quando seu pae a tivesse de novo em seu poder.

Partiu o creado do rei em busca das pombinhas que tinham levado a coroa e como passasse muito tempo sem as encontrar foi ter ao reino da chuva para ver se ali lhe davam noticias d’ellas. Chegado lá, encontrou uma velhinha que lhe disse ser mãe da chuva, e como elle lhe dissesse o que pretendia, mandou-o entrar para casa e esperar que viesse a filha. Passados poucos momentos chegava ella e disse logo: — «Senhora mãe, aqui entrou gente pois cheira-me a sangue humano.» Respondeu-lhe a mãe: — «Não te enganas, minha filha; está aqui um creado do rei que deseja que lhe digas se viste duas