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pombinhas que levavam uma coroa real nos bicos.» Respondeu a chuva: — «Não as vi, mas talvez o meu compadre vento as visse, pois esse quasi sempre entra em toda a parte.»

Foi o creado ter ao reino dos ventos; esperou que o rei dos ventos entrasse em casa e logo sentiu o grande barulho que elle fazia. Da mesma forma que a chuva, assim elle respondeu, acrescentando mais: — «A mim tapam-me todos os buracos e janellas, por isso nada sei d’essas pombas, mas o sol com certeza ha de saber, pois as aves gostam todas muito do sol.»

Partiu o creado para o reino do sol e n’estas viagens iam-se passando annos, pois elle tinha de atravessar ares e nuvens para ver se encontrava o que desejava. Chegado ao reino do sol logo este lhe appareceu e lhe disse: — «As pombas que procuras estão no reino dos passaros; agora estão ellas fazendo os seus ninhos dentro da coroa que te roubaram; monta no meu cavallo e parte para lá; espera que as pombas saiam, tira a coroa e logo o rei dos passaros te offerecerá as suas azas para te conduzir ao palacio do rei teu amo.»

Montou o creado no cavallo do sol e tudo se passou como elle tinha dito. Chegado ao palacio do rei com a coroa, disse-lhe o rei: — «Não te posso já dar a minha filha, porque ella anda encantada n’uma pomba, mas se tu quizeres casar com ella has de primeiro fazer o que te vou ordenar. Vês aquelle campo que está em frente d’este palacio?» — «Vejo, real senhor.» — «Pois bem; ordeno-te que de hoje até amanhã o vás semear de trigo, e que o faças crescer, que o ceifes, lhe tires a farinha, cozas o pão e m’o apresentes aqui prompto.»

Foi-se o creado muito triste por lhe parecer impossivel fazer tantas cousas; eis que de repente lhe appareceu Branca-flor e lhe disse: — «Sei de tudo que meu pae te ordenou; não te dê cuidado que tudo se ha de arranjar.» De repente achou-se o campo semeado de trigo, d’ai a pouco tempo foi ceifado por Branca-flor e pelo creado; depois prepararam o trigo para ser moido, amassaram o